No começo da semana veio um menino em minha casa se dizendo amigo do meu filho, que gostaria de falar com ele, e aproveitando que já estava na porta, pediu dinheiro e comida.
Perguntei porque ele estava na rua e não na escola, e a resposta foi que ele tinha "coisas" pra resolver na rua e perdeu o horário da aula.
Disse que não daria nada a ele e pedi pra que se retirasse.
No dia seguinte Dudu chegou na escola e o moleque o esperava, disse que me viu, e queria saber meu nome porque ele já sabia o nome do pai dele e que trabalhava na tv, e queria saber mais coisas sobre mim.
Eduardo muito bravo disse que não falaria meu nome e pediu para que o deixasse entrar na escola.
O moleque não satisfeito com a resposta, durante a aula escondeu os cadernos do meu filho, deu beliscões em seu braço, escondeu caneta e lápis, e ameaçava dar socos em sua cara, e AINDA pediu pra que o Dudu comprasse balas para ele, caso contrário, os primos, que são membros de uma gangue, o bateriam na saída da escola.
Eduardo não acostumado com esse tipo de gente, chegou em casa muito chateado, com o braço vermelho por conta da "agressão". Chorou. Choramos juntos.
Falei com a diretora no dia seguinte, e descobrir mais sobre esse menino, quem é sua mãe, e que providências deveria tomar sobre o caso.
E eu, atônita ouvi a história triste dessa família completamente desestruturada, onde as crianças são tratadas como nada, e passam fome e uma infinidade de outras necessidades.
Falamos com o Conselho Tutelar e o responsável pelo caso da família me orientou a fazer um Boletim de Ocorrência. Não acontecerá nada ao moleque, que só tem 11 anos.
Liguei pra uma amiga que também faz parte do Conselho Tutelar, e ela me disse que consegue imaginar o que acontece na cabeça desse menino, que não tem nada a perder, não tem família, não tem dinheiro, não tem comida, o que lhe resta é tentar chamar a atenção batendo ou querendo mostrar algum tipo de superioridade no braço, descontando sua ira em alguém com família estruturada, no caso, o Dudu.
Sinto pena desse moleque e da situação em que ele se encontra, por outro lado, não se se simplesmente posso fazer de conta que isso não afeta minha família e meu sossego.
Eles são chamados de "excluídos" e sou eu que não deixo meu filho sair da escola sozinho, nem brincar na rua, nem ir ao supermercado, porque não sei se a gangue o espera em alguma esquina.
Tive o desprazer de ficar cara a cara com esse menino na diretoria da escola. Enquanto conversávamos, fiquei imaginando ele beliscando e ameaçando a dar socos na cara do meu filho, conversamos bastante e eu tentei deixar bem claro pra ele que tomarei outras providências caso ele não pare com as ameaças.
Um sentimento de pavor e impotência toma conta da gente, tentamos ser pessoas boas, damos educação, nos preocupamos com o bem estar dos nossos filhos, enquanto tem o outro lado, que cria bandidos com suas gangues.
Eles são os excluídos, nós somos os prisioneiros.